Sunday, 19 August 2007

As "nossas" prioridades

Devia ter colocado este comentários no post anterior, mas julgo que será melhor fazê-lo de forma independente.
Julgo que no post anterior sobre o referendo ao TGV e Aeroporto de Lisboa, assim como toda a discussão que envolve estas questões, fica patente que há acérrimos defensores deste tipo de investimentos. No entanto, e infelizmente, não consigo vislumbrar este tipo de discussões quando se fala do estado lastimoso em que se encontra o nosso ensino, desde o pré-escolar ao universitário. Não vejo, e não consigo antever, a sociedade a mobilizar-se para que se aumentem as competências dos portugueses a médio e longo prazo.
Em todas as eleições, todos os partidos fazem pedra central nas suas campanhas o conhecimento enquanto elemento dinamizador e potenciador de crescimento. Relembram-nos os casos da Irlanda, da Suécia, da Holanda e da Finlândia. Países cujo exemplo devemos seguir... mas que depois não seguimos.
Quando se fala de avultados investimentos em obras públicas, logo aparecem os defensores desses investimentos, mas quando se fala em investir mais na ciência e conhecimento, poucos são os que defendem tais políticas de forma tão veemente. Endividar o país e gerações futuras para construir grandes obras, não há problema. Investir no conhecimento, talvez por não ser tangível e ter resultados de longo prazo, poucos são os que defendem tais investimentos de forma tão acérrima.
Para avivar a memória relativamente a recentes investimentos deste tipo com efeitos duradouros duvidosos para o desencolvimento de Portugal: CCB, Expo, estádios do Euro. Desde do CCB passaram-se cerca de 15/20 anos. Se tivessemos investido o dinheiro gasto nessas obras no nosso ensino, certamente que Portugal não estaria no ponto em que está actualmente. São décadas perdidas. Com o aeroporto de Lisboa e TGV vamos novamente ter décadas de investimento perdido em obras sumptuosas, e em que pouco ou nada vamos beneficiar o País. Para alterar a situação submundista ao nível do ensino português, não vemos a sociedade portuguesa a mobilizar-se nem os órgãos de comunicação social a darem a mesma (já não peço mais) importância que dão à Ota ou TGV.
Deixo aqui algumas tableas que ilustram a situação portuguesa em termos de formação dos nossos recursos humanos. Estes dados foram retirados do link anterior e que estão no site www.novasoportunidades.gov.pt.

Média de anos de escolarização da população adulta

Países

Média

Noruega

13,8

Dinamarca

13,6

Alemanha

13,4

Luxemburgo

13,4

Finlândia

12,1

França

11,5

Grécia

10,5

Espanha

10,5

Turquia

9,6

México

8,7

Portugal

8,2

Média OCDE

12,0

Fonte: OECD, Education at a Glance, 2005.

Reparem bem que estamos muito abaixo da Grécia (nossa habitual concorrente para o pior lugar na UE), da Turquia (e esta?) e do México. Vergonhoso. Mas dinheiro para TGV e aeroportos já há.

Nº de alunos matriculados no ensino superior

1960

1970

1980

1990

2000

2004

24.149

49.462

87.256

186.780

387.703

373.891

Fonte: GIASE, Estatísticas da Educação; OCES, Estatísticas da Educação

Numa altura em que deviamos ter mais alunos a entrar no ensino superior, eis que os números se reduzem nos anos mais recentes, quebrando a tendência de subida. Sem dúvida resultado da situação demográfica portuguesa, mas não expllica tudo.

Taxas de Abandono Escolar e de Saídas Antecipada e Precoce (%)


1991

2001

Abandono Escolar
10-15 anos - Sem 3.º Ciclo Ensino Básico

13

3

Saída Antecipada
18-24 anos - Sem 3.º Ciclo Ensino Básico

54

25

Saída Precoce
18-24 anos - Sem Ensino Secundário

64

45

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População - 1991 e 2001

Se não estou em erro, para os paises da UE a taxa média de Saída Precoce ronda os 20%. Estamos mesmo muito mal.


E mais assustador ainda:

Evolução das Taxas de Retenção e de Desistência


95/96

96/97

97/98

98/99

99/00

00/01

01/02

02/03

Ensino Básico

13,8

15,2

13,8

13,2

12,6

12,7

13,6

13,0

Ensino Secundário

33,1

35,7

35,6

36,0

36,8

39,4

37,4

33,7

Fonte: GIASE, Estatísticas da Educação

Ou seja, nos últimos 8 anos a situação de desistência no ensino secundário quase não se alterou.

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